2ª Edição do Ciclo Preto Sou discute cultura, arte e cotidiano afrodescendente
Programação contou com a presença de artistas, escritores e ativistas
Um dia para dar visibilidade ao talento negro na cultura e na literatura. Esse é um dos objetivos da 2ª edição do Ciclo Preto Sou, evento que faz parte da programação da 70ª Feira do Livro de Porto Alegre. Durante toda a sexta-feira (8), diversos artistas, escritores e ativistas realizaram atividades que valorizaram a cultura, a arte e o cotidiano afrodescendente.
O escritor Cuti, pseudônimo de Luiz Silva, uma das vozes contemporâneas mais importantes da literatura negra produzida no Brasil, participou de um bate-papo sobre os avanços e retrocessos da poesia negro-brasileira na atualidade. “Nós estamos fazendo no Brasil uma literatura extremamente importante”, destacou. Cuti é poeta, ficcionista, dramaturgo e ensaísta. O encontro, mediado por Duan Kissonde, também contou com a presença dos poetas Elizandra Souza e Ronald Augusto.
A programação da segunda edição do Ciclo Preto Sou contou com a curadoria da escritora Lilian Rocha, que está à frente da primeira Curadoria de Literatura e Cultura Negra da Feira do Livro de Porto Alegre.
Desafios e potencialidades da mulher negra
Um dos destaques da atividade foi o bate-papo “Desafios e potencialidades da mulher negra pela equidade na sociedade”, realizado na manhã desta sexta no Espaço Força e Luz. As debatedoras do evento foram a deputada federal gaúcha Reginete Bispo, a escritora, pedagoga, professora aposentada e mestre em Relações Étnico Raciais, Sônia Rosa, e a jornalista e produtora cultural Sílvia Abreu.
Durante o encontro, Sônia revelou que os conteúdos dos seus livros infanto-juvenis retratam sua experiência com o racismo, o que ela denomina de literatura negroafetiva. De acordo com ela, suas histórias trazem personagens negros protagonistas, em uma representação que chama de “positiva” e “afetiva”.
Seu primeiro livro foi Menino Nito (1988), que trata de um garoto negro, e abriu caminho para outras 40 publicações que viriam depois. Entre elas, citou Palmas e vaias, em que conta um episódio de racismo que enfrentou aos 11 anos.
“Eu era uma menina carioca negra e favelada, mas que tinha as melhores notas na sala de aula. Em uma festa junina da escola realizada em um clube, fui premiada. Ao receber o prêmio, fui vaiada pelo clube inteiro por ser negra, mas minha mãe bateu palmas pra mim. Isso serviu de lição, porque na vida devemos escolher entre as palmas e as vaias”, ressaltou.
Sônia reforçou a importância da literatura na formação da mentalidade das crianças afrodescendentes no Brasil. “Temos que ter mais livros com protagonismo negro! Deem mais obras sobre o tema para os pequenos”.
Sílvia Abreu também exaltou o poder dos livros em uma sociedade que discrimina a população negra. “A literatura é uma ferramenta poderosa para driblar um sistema feito para os negros ocuparem determinadas funções ou profissões menos valorizadas”.
Ela relatou que conseguiu se formar em Jornalismo e se tornar produtora cultural porque sempre leu, muito incentivada por seu pai. “A gente precisa se instrumentalizar para hackear essa estrutura e provar que é possível vencer os obstáculos. Graças à leitura, eu hackeei o sistema e ocupei espaços que não eram destinados pra mim”, enfatizou.
A jornalista ainda destacou a responsabilidade das mulheres negras na educação dos filhos, assim como na política. “Nós só vamos mudar o sistema quando colocarmos pessoas negras nos espaços de poder”.
Reginete Bispo, por sua vez, defendeu a necessidade de autonomia financeira do povo negro. Segundo ela, a maioria dos trabalhadores microempreendedores individuais (MEIs) no Brasil são mulheres negras, que consequentemente, estão no mercado informal de trabalho. Por isso, “o grande desafio, atualmente, é disputar os recursos econômicos do país e potencializar essas mulheres empreendedoras a se tornarem empresárias de sucesso”.
Segundo a deputada federal, os negros avançaram no acesso à educação e à saúde, mas ainda é necessário ganhar espaço na área econômica. “Nossos jovens precisam se inserir no mercado formal de trabalho. Se você tem salário e renda, tem tudo”, concluiu.
Oficina de poesia e memória
Outra atividade que marcou a segunda edição do Ciclo Preto Sou foi a “Oficina – Poesia e memória: imaginação ou realidade”, comandada pela escritora e curadora de literatura e cultura negra da Feira, Lilian Rocha. O evento aconteceu na Sala Noé de Melo Freitas, no Espaço Força e Luz.
A oficina contou com momentos de atividades práticas, como escrita de versos e pequenos poemas. “Escrever poemas é para todos, colocar nossas ideias e pensamentos no papel, na ponta do lápis, é libertador”, afirmou Lilian.
A 70ª Feira do Livro de Porto Alegre vai até o dia 20 de novembro, na Praça da Alfândega, com programação diária, sempre das 10h até as 20h.
Sobre a Feira
A Feira do Livro de Porto Alegre é realizada pela Câmara Rio-Grandense do Livro entre os dias 1º e 20 de novembro, na Praça da Alfândega. O patrono desta edição é o escritor Sergio Faraco. A 70ª Feira do Livro de Porto Alegre conta com o patrocínio Master do Banrisul, banco oficial da Feira do Livro e da Petrobras – patrocinadora do Teatro Petrobras Carlos Urbim. Patrocínio de Gerdau, Grupo Zaffari, Ceee Equatorial, Caixa e Sulgás. Apoio Especial da Prefeitura de Porto Alegre, SZ Working e Senado Federal. Parceiro de tecnologia: RL Net e Procempa. Financiamento: Secretaria de Estado da Cultura / Governo do Estado do Rio Grande do Sul. Media Partners: Eletromidia. Apoio Cultural: Edições Câmara, Assembleia Legislativa do RS, Banco dos Livros, Fundação Gaúcha dos Bancos Sociais, ESPM, Instituto Camões, Consulado da Argentina, Instituto Cervantes, Instituto Goethe, Embaixada da Suécia, Prefeitura de Guaíba, Panvel, Versa Partner, Kodex, Câmara dos Vereadores de Porto Alegre, Master Hotéis, Cisne Branco e Espaço Força e Luz. Apoio institucional: Feevale, Bibliex, Uniritter, BRDE e Aliança Francesa. Estado convidado: Estado da Paraíba. Espaços cedidos: Clube do Comércio, Espaço Cultural dos Correios, Memorial do RS, auditório do SindiBancários, auditório da Livraria Paulinas e Biblioteca Pública do Estado.